Cozinha Solidária Jardim Julieta abre as portas na Zona Norte de São Paulo
Fruto da parceria entre os projetos Quebrada Alimentada do Mocotó, Cozinhas Solidárias do MTST e Instituto Capim Santo, espaço distribui refeições diariamente e vai formar pessoas da comunidade com cursos de gastronomia
Por Sacso Brasil
04/04/2025 12h41 - Atualizado em 03/04/2025 12h45
Após 1 ano e 4 meses de obras, a Cozinha Solidária Jardim Julieta acaba de ser inaugurada na ocupação homônima, localizada na zona norte de São Paulo, a aproximadamente 1,5 km do restaurante Mocotó. Concebida em conjunto pelos projetos Quebrada Alimentada e Cozinhas Solidárias do MTST em parceria com o Instituto Capim Santo. A iniciativa contou com inúmeros parceiros, que apoiaram com mão de obra, materiais de construção e equipamentos de cozinha, além das doações recorrentes de alimentos.
O Instituto Capim Santo, em parceria com a Quebrada Alimentada, está liderando a gestão administrativa e operacional da Cozinha Solidária no Jardim Julieta, fortalecendo a segurança alimentar na região. O Instituto atua na parte de estruturação e profissionalização dos processos, garantindo a eficiência na produção e entrega de refeições nutritivas. Essa colaboração reafirma o compromisso de ambas as organizações com a inclusão social e o bem-estar da população, utilizando a gastronomia como ferramenta de transformação.
Segundo a historiadora e pesquisadora Adriana Salay, idealizadora do Quebrada Alimentada ao lado do chef Rodrigo Oliveira, o serviço do espaço já começou, com 150 refeições diárias preparadas e entregues por uma equipe de três mulheres - uma coordenadora, uma cozinheira e uma ajudante de cozinha. A partir do mês de abril, o número cresce para 500 refeições por dia, com a chegada de mais duas auxiliares de cozinha para compor o time.
Além de distribuir refeições completas para a comunidade, a Cozinha Solidária Jardim Julieta também será lugar de formação profissional. Com apoio do Instituto Bia Rabinovich, que tem a missão de transformar vidas fomentando iniciativas de conhecimento e capacitação gastronômica, as duas primeiras turmas - panificação e auxiliar de cozinha - terão 15 pessoas cada. O público-foco são moradores da própria ocupação e do entorno e a seleção dos candidatos será feita junto às lideranças comunitárias.
“Nosso trabalho pela Cozinha Solidária Jardim Julieta é a continuidade e ampliação do que o projeto Quebrada Alimentada tem feito há 5 anos”, explica Adriana. “As cozinhas solidárias são formas coletivas de solidariedade que promovem acesso à alimentação de qualidade e desonera a mulher da obrigação do trabalho não remunerado de cuidado. Não há saída individual para problemas coletivos”, sublinha.
“À frente do Instituto Capim Santo, que ao longo de 15 anos vem ajudando a transformar a sociedade por meio da gastronomia e já produziu e distribuiu mais de 2 milhões de refeições desde a pandemia, entendo o impacto positivo que um projeto como o Cozinha Solidária pode ter em uma comunidade. Desde a primeira ligação da Adriana Salay, já entendemos o quanto essa parceria seria um sucesso no que se refere a trazer dignidade à vida das pessoas através de uma alimentação saudável, nutritiva, saudável e saborosa. É uma história linda que se inicia e que temos certeza irá durar por muitos anos”, afirma Morena Leite, fundadora do Instituto Capim Santo.
“Com o Quebrada Alimentada, que é a semente disso tudo, nossa maior motivação foi entender que a gente podia entregar, com cada porção de alimento, também uma porção de dignidade”, complementa o chef Rodrigo Oliveira. “Erguer a Cozinha Solidária foi um feito de muitas mãos e muitos corações, mas a força principal veio da própria comunidade e ganhou respaldo na Adriana. Ela foi a grande catalisadora dessa obra e conseguiu reunir parceiros de todas as esferas e tornar esse sonho realidade”, conclui.
Parcerias e apoios
Algumas parcerias e apoios foram fundamentais para que a Cozinha Solidária Jardim Julieta ganhasse vida. Entre eles o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pela criação da política pública federal do Programa de Cozinhas Solidárias e pela emenda parlamentar que beneficia o programa, e o Instituto Kairós, entidade gestora que direciona os recursos para as iniciativas.
Tem ainda o Instituto Assaí, que faz a doação dos mantimentos, como arroz, feijão, óleo e sal, enquanto a ONG Pacto Contra a Fome é parceria em captação. A Fundação Cargill, através de seu edital Semeia, tornou-se apoiadora do Instituto Capim Santo. No caso das formações, graças ao financiamento do Instituto Bia Rabinovich foi possível inaugurar as primeiras turmas dos cursos de auxiliar de cozinha e panificação. O Hospital Sírio-Libanês, por sua vez, é parceiro na pesquisa de medição de impacto do projeto.
Sobre o Quebrada Alimentada
Em março de 2020, quando a pandemia chegou ao Brasil, o restaurante Mocotó entendeu que estávamos entrando em uma crise que não era apenas sanitária, mas também uma crise de fome. As pesquisas confirmaram isso mais tarde, dizendo que, no Brasil, mais da metade da população estava em algum nível de insegurança alimentar. Por isso surgiu o Quebrada Alimentada, que passou a distribuir marmitas e cestas básicas para famílias da comunidade.P
Até o momento foram mais de 130 mil refeições servidas diariamente e 500 famílias cadastradas para serem atendidas mensalmente com cestas básicas convencionais e cestas de alimentos orgânicos e agroecológicos comprados da agricultura familiar. Agora o projeto vai inaugurar uma nova cozinha-escola na ocupação Jardim Julieta que distribuirá marmitas e promoverá acesso à educação, como formação na área de gastronomia. O propósito não é só nutrir o corpo, mas oferecer condições e possibilidades de vida mais dignas à população em situação de vulnerabilidade.ar
Sobre o Instituto Capim Santo
O Instituto Capim Santo é uma organização não governamental que atua como um hub de gastronomia social sustentável, promovendo a educação para o combate ao desperdício, o uso integral dos alimentos e a valorização da identidade brasileira na culinária. Criado em 2010 pela chef Morena Leite, o Instituto oferece formação profissional gratuita para pessoas em situação de vulnerabilidade, ampliando oportunidades por meio de cursos e oficinas em parceria com diversas instituições. Desde então, já formou mais de 10 mil alunos em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
Além da qualificação profissional, o ICS gerencia restaurantes sociais, realiza curadoria gastronômica em festivais e colabora com outras ONGs no combate à fome, onde já viabilizou a distribuição de mais de 2 milhões de marmitas.
Sobre as Cozinhas Solidárias do MTST
As Cozinhas Solidárias foram criadas pelo MTST com o propósito de ajudar a combater a fome em um período de crise sanitária, social, econômica e política que tirou mais de 700 mil vidas. O projeto teve início no auge da pandemia, sendo a primeira Cozinha Solidária inaugurada em março de 2021. Nesses quase quatro anos, as Cozinhas Solidárias estão presentes em todas as regiões do país, contando hoje com 53 cozinhas que garantem a alimentação de mais de 12 mil pessoas de baixa renda. São mais de 6 milhões de marmitas distribuídas e quase 4,5 milhões de quilos de alimentos produzidos. Além disso, o projeto oferece oficinas, rodas de conversa, atendimento jurídico, psicológico, e de saúde, saraus e cursos de alfabetização para a comunidade, funcionando como um equipamento social importante em locais carentes desses espaços de convivência.
As Cozinhas Solidárias estão presentes, ainda, nos momentos de maior dificuldade da população mais pobre do país, em tempos de chuvas incessantes e aumento das temperaturas, com enchentes e alagamentos e um número enorme de desabrigados. Nestas situações, também foram abertas Cozinhas Solidárias Emergenciais em várias regiões do Brasil, tais como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Acre, Rio de Janeiro, Pernambuco, Piauí e São Paulo, garantindo a alimentação de pessoas que, muitas vezes, perderam suas casas e famílias.
Sobre o Instituto Bia Rabinovich
A brasileira Beatriz Rabinovich estabeleceu o Instituto Bia Rabinovich em novembro de 2023 com a missão de oferecer apoio filantrópico a instituições e projetos no campo da formação e qualificação profissional em gastronomia.
Inspirada por uma longa trajetória de voluntariado e compreendendo que o conhecimento pode ser um catalisador para mudanças significativas, capaz de abrir portas, transformar destinos e impactar realidades, a fundadora sentiu a necessidade de direcionar apoio a projetos sociais que compartilham de seus ideais, com a promoção de iniciativas que utilizem o conhecimento em gastronomia como uma ferramenta transformadora de vidas e comunidades vulneráveis no Brasil.